terça-feira, junho 13, 2006

LEMBRAR ANTÓNIO VARIAÇÕES



Chamava-se António Variações mas ficará conhecido na história da música portuguesa como António Barbeiro de profissão e músico por devoção, consegue em pouco mais de um ano transformar-se num caso único de popularidade.

Na sua discografia contam-se apenas um máxi-single e dois álbuns, editados entre 1982 e 1984. A morte prematura aos 39 anos - em 1984 - virá pôr termo à meteórica carreira de Variações, mas a sua obra permanece - e permanecerá decerto - bem viva na memória não apenas na dos seus admiradores, mas também na dos seus críticos mais ferozes. Porque António gerou paixões e ódios, mas nunca a indiferença .

António Joaquim Rodrigues Ribeiro nasce em Fiscal, pequena aldeia do concelho de Amares, Braga a 3 de Dezembro de 1944. O quinto dos dez filhos de Deolinda de Jesus e Jaime Ribeiro. António faz os seus estudos na escola local, ajudando no resto do tempo os pais no campo. Mas a paixão pela música demonstrada desde tenra idade fá-lo-á esquecer muitas vezes os trabalhos da lavoura em favor das romarias e folclore locais.

Aos 11 anos, terminada a instrução primária, experimenta o primeiro ofício em Caldelas. " Ia fazer quinquilharias, mas passado pouco tempo desistiu ", contara a mãe já em 1988, à Imprensa. Mal completa 12 anos abandona a terra- natal rumo a Lisboa. Vem para ser marçano, mas acabará por trabalhar num escritório. A tropa fá-la em Angola, mas sem antes pedir à mãe que lhe acenda uma vela a Sto António para protecção. Regressa são e salvo. Mas logo volta a partir, desta feita para Londres, onde permanece um ano a lavar pratos num colégio.

Em 1976 regressa. De novo por pouco tempo. O próximo destino será Amesterdão, onde fica mais um ano e aprende o ofício de cabeleireiro.

Já em Lisboa, dedica-se de dia ao ofício, e á noite à sua paixão pela música, dando espectáculos com um grupo de músicos intitulado " Variações ". E começa então a ser notado pelo seu visual excêntrico e personalizado, com base nas cores e formas originais e em alguns elementos de adorno, como por exemplo os brincos.

Em 1978 apresenta uma maquete com algumas músicas à editora Valentim de Carvalho e nesse ano assina contrato. Mas terá de esperar quatro anos para poder gravar, porque entretanto Mário Martins e Nuno Rodrigues insistem para que grave, respectivamente folclore ou pop.

Os contactos com profissionais do mundo da música, seus clientes na barbearia, abrir-lhe-ão, entretanto as portas da notoriedade.

Em Fevereiro de 1981 surge pela primeira vez na televisão, no "Passeio dos Alegres" de Júlio Isidro, que o convidará para algumas emissões da "Febre de Sábado de Manhã" na Rádio Comercial.

Em Julho de 1982, já sob o nome António Variações, edita o seu primeiro single, um duplo lado A com "Povo Que Lavas No Rio" - imortalizado por Amália Rodrigues - e "Estou Além", um inédito de sua autoria. Um ano depois sairá o primeiro LP- "Anjo Da Guarda "- que o transformará numa estrela popular à escala nacional.

Depois de inúmeros concertos na época estival, sobretudo em festas e romarias de aldeias e outras pequenas localidades, volta a entrar em estúdio. Entre 6 e 25 de Fevereiro de 1984 grava o segundo e último LP; "Dar E Receber".

Em Abril aparece pela última vez em público no programa televisivo "A Festa Continua" de Júlio Isidro. Será a única interpretação no pequeno ecrã das faixas do novo disco. Quando " Dar E Receber " é editado, semanas mais tarde, já António Variações se encontra internado no Hospital Pulido Valente devido a um problema brônquico-asmático. É já no hospital que ouvirá pela primeira vez na rádio as músicas de promoção do disco.

Debilitado pela doença que se agrava vertiginosamente, é transferido a pedido da família para a Clínica da Cruz Vermelha, onde virá a falecer a 13 de Junho.

Porquê Variações?

"Variações" é o nome do grupo de músicos que acompanha António Rodrigues Ribeiro no início de carreira, ainda na noite lisboeta.

Quando em 1981 se estreia na televisão, António apresentar-se-á com essa banda sob a designação "António e Variações". Um ano mais tarde, quando edita o primeiro single, o cantor surge já como António Variações.

"Variações é uma palavra que sugere elasticidade, liberdade. E é exactamente isso que eu sou e que faço no campo da música. Aquilo que canto é heterogéneo. Não quero enveredar por um estilo. Não sou limitado. Tenho a preocupação de fazer coisas de vários estilos". (António Variações a "O País" - 14.04.84)

" O António Variações gosta de pôr as pessoas a cantar, gostava de não ser só um espectador. E tem vontade de ficar na História, nem que seja na história de uma parede de casa-de-banho". (António Variações ao "Sete" (jornal antigo de música)- 30-03.83)

Os discos do Variações:

O percurso discográfico de António Variações inicia-se em 1982, quatro anos após ter assinado o contrato com a editora. Lança então um single - duplo lado A - com "Povo Que Lavas No Rio" - clássico de Pedro Homem de Mello e Joaquim Campos, imortalizado pela voz de Amália Rodrigues- e um inédito de sua autoria, "Estou Além".

A nova roupagem que dá ao fado de Amália causa polémica, sendo mesmo acusado de sacrilégio. Mas pouco tempo depois será visto como o primeiro passo em direccção ao sucesso e o disco foi compreendido como uma sentida amostra da sua religiosa devoção à fadista. Passado um ano, edita "Anjo Da Guarda ", o primeiro LP e dedica-o a Amália . O álbum resulta de um ano muito agitado de gravações. As sessões de estúdio têm no seu início a colaboração de Vitor Rua e Tóli César Machado, dos GNR, como arranjadores e produtores, mas logo são interrompidas pelos desentendimentos que levam à saída de Vitor Rua do grupo. Serão retomadas mais tarde sob a supervisão de José Moz Carrapa. O disco acabará assim por resultar dos cinco temas com Tóli e Rua a que se juntam "Estou Além" e os quatro temas orientados por Carrapa.

O álbum recebe os mais efusivos elogios da Imprensa que realça a inovação e originalidade do som, assim como a postura de Variações bem notória na fotografia de perfil na capa junto a um busto simbolizando Amália. A rádio e o público acabarão por eleger o cantor como um dos maiores nomes do momento. "O Corpo É Que Paga" e "É P´ra Amanhã" estarão entre os temas mais tocados do ano, sendo o último editado como single no Verão.

Em 1984 , Variações grava o seu segundo e último álbum e dedica-o aos pais, à equipa de trabalho do disco, a todos os que gostassem de tocar com ele, aos vigaristas e a Fernando Pessoa. Chama-se "Dar E Receber " e contará com a participação de Pedro Ayres Magalhães e Carlos Maria Trindade - à época elementos dos Heróis do Mar - como responsáveis pela produção e direcção musical. Os cinco elementos dos Heróis do Mar constituirão a banda de estúdio que participa nas gravações.

E mais uma vez a estética está presente na capa. Desta feita, Variações surge de corpo inteiro envergando um maillot masculino e de cabelo roxo. Olha um espelho, no meio dumas árvores.

" Dar E Receber " é editado em Maio e é recebido entusiasticamente pelo público e crítica, na altura abalados com o preocupante estado de saúde do cantor.

Esta última dádiva de Variações irá ter em "Canção de Engate" um dos seus maiores sucessos.

O adeus do Variações:

"Tenho pena de morrer, mas não medo. Tudo o que acaba me deprime. Mais pelo fim do que pelo acto em si."- palavras de António Variações à Imprensa, poucas semanas antes de morrer.

Em 1984, a SIDA era ainda considerada como "praga dos homossexuais" e raros seriam os casos diagnosticados em Portugal.

Em Junho, a comunicação social anunciava o grave estado de saúde de António Variações. Logo se levantam as primeiras suspeitas em relação ao problema brônquico- asmático que levara ao seu internamento no Hospital Pulido Valente no dia 18 de Maio e à sua transferência para a Clínica da Cruz Vermelha. "Aquele a mim nunca me enganou, está mesmo a ver-se que está com isso",(aqui já se poderia dizer que se dava inicio os preconceitos contra os doentes com SIDA) podia ouvir-se um pouco por toda a cidade. Mas nem todos viraram as costas a António Variações. Na clínica, recebia a visita dos Heróis do Mar, companheiros do último disco editado já durante a sua hospitalização. Foi mesmo no hospital que ouviu uma das faixas na rádio, pela primeira e última vez.

No mês em esteve internado, António Variações emagreceu vinte quilos. Segundo palavras da irmã, mantivera-se lúcido sendo a tosse o que lhe provocava maior sofrimento, fazendo-o mesmo pedir para morrer.

E na madrugada de 13 de Junho, a morte levou o criador de "Estou Além". A polémica em torno da sua doença torna-se tema de destaque, não por preocupação com o cantor, mas por constitur para muitos o primeiro caso conhecido de SIDA em Portugal.

"Broncopneumonia Bilateral Extensa" seria a causa apontada para a morte do cantor, mas os cuidados extremos durante a autópsia e a selagem do caixão "por constituir perigo para a saúde pública" (nesta altura, como ainda se desconhecia o modo de contágio, havia o medo do que temiam sem terem informação, aliás, ainda não havia qualquer género de informação, sendo que hoje também não existe muita).

Ao velório na Basílica da Estrela acorreriam Amália, Maria da Fé, Lena D`Àgua e elementos dos Heróis do Mar. Mas a maioria seriam os jovens de liceu, as velhinhas, os colegas de profissão - barbeiros - que vinham assim despedir-se do seu idolo.

Os restos mortais de Variações seriam depois transportados no dia 15 para o cemitério de Amares, onde se encontra sepultado.

As declarações pouco esclarecedoras dos médicos e os desmentidos mantidos até hoje pela família acabariam por encerrar a polémica.

Em 1998, a SIDA é já olhada a uma outra luz já não é o "castigo para homossexuais" de 1984. Se António Variações foi a sua primeira vítima declarada ou não é o que menos interessa.

Interessa sim lembrar a descriminação e críticas de que foi alvo nos últimos tempos de vida..

Recordando Variações

Queria ficar na história da música popular e conseguiu. Muitas foram e continuam a ser as homenagens prestadas a António Variações. Eis algumas das mais relevantes, que contribuem em larga escala, treze anos após a morte do cantor, para manter bem viva a sua obra.

1987 - Em Abril, os Delfins incluem no seu álbum de estreia "Libertação", uma versão de "Canção De Engate". É a primeira versão gravada de um original de Variações.

1988 - A EMI - Valentim de Carvalho reedita o máxi - single "Estou Além". "Anjo Da Guarda" é editado pela primeira vez em CD.

1989 - No quinto aniversário da morte de António Variações, a EMI - Valentim de Carvalho reedita, numa edição especial, a sua discografia. Em Julho, "Dar E Receber" é editado em CD. Em Novembro, Lena D`Água edita "Tu Aqui", álbum que inclui nove temas inéditos de Variações.

1993 - Para assinalar os nove anos passados sobre a morte de Variações, Júlio Isidro dedica-lhe uma das emissões do seu programa televisivo "Sons do Sol".

1994 - A EMI - Valentim de Carvalho reúne dez artistas em torno de dez temas de Variações e edita o tributo "Variaçoes - As Canções De António"

1995 - As Amarguinhas incluem no seu CD de estreia uma versão de "Estou Além".

1996 - O projecto MDA inclui no seu álbum de estreia uma versão de "Estou Além" e outra de "Dar E Receber". No dia 1 de Dezembro, a RTP2 transmite um documentário sobre a vida e obra de Variações, da autoria de Maria João Rocha.

1997 - A EMI - Valentim de Carvalho reedita em CD - single " O Corpo É Que Paga " e a colectânea "O Melhor De António Variações".

Nota do Escriba: Hoje, dia 13 de Junho, faz precisamente, 22 anos que António Variações morreu. Caso fosse vivo, teria 61 anos. Com certeza que deve haver pessoas que não conhecem este ser humano incrível que marcou uma era de ouro da música Portuguesa. Era um artista tão à frente no seu tempo, quanto Freddie Mercury o era. Enfim...eram ambos artistas incompreendidos com irreconhecido valor pelos média.















4 Comentários:

Blogger ¦☆¦Jøhη¦☆¦ said...

Bom dia meu amigo :)

Era muito novo quando ele morreu, apenas tenho uma vaga ideia dele (apesar de eu já ter 6 anos). Era um grande artista e ainda hoje a sua musica marca!

Fizeste bem em recordar este grande artista :)

Um abração, João

12:08 da tarde  
Blogger Lídia Amorim said...

apesar de ser uma jovenzinha.. gosto de antonio variações, e nao é por causa dos humanos!! é porque sempre gostei das musicas..eheh é estranho, mas eu gosto de tudo!! vale sempre a pena recordar quem canta em português!! na nossa lingua!! depois queixam-se que a produção não é boa em português!! ninguem canta em português.. e os que cantam estragam tudo..enfim.. mas sabem bem recordar este senhor de barrete*jokas

4:21 da tarde  
Blogger Lídia Amorim said...

entao como vao as coisas para esses lados de terra seca e campos "descampados"?? eheh jokas aparece*/conta coisas..

1:43 da tarde  
Blogger Light said...

Adoro Variações....genial o senhor!

7:01 da tarde  

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